Ensino remoto dificulta e até retrocede aprendizado de alunos da educação especial em MS

Alunos que eram acompanhados diariamente por auxiliares agora sofrem o distanciamento dos colegas, professores, quebra de rotina e possuem apenas apostilas preto e branco para estudar

| MIDIAMAX


Mães de filhos da educação especial pedem mais atenção para as alternativas das aulas remoto.(Foto: Guilherme Cavalcante/Midiamax)
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Se a educação a distância já é um desafio para alunos que compreendiam as aulas presenciais sozinhos, imagine para crianças que precisam de acompanhamento de auxiliares. Com a pandemia, crianças com deficiência e as famílias estão esbarrando em diversas dificuldades no aprendizado. Pais de alunos da educação especial de Campo Grande relatam os obstáculos que enfrentam ao lado dos filhos.

Crianças com deficiência possuem respaldo do Estatuto da Pessoa com Deficiência. Assim, a Lei 13.146/2015 garante que é direito dessas crianças o acompanhamento por um profissional de apoio escolar.

Entretanto, com a pandemia e a suspensão das aulas presenciais, estas crianças ficaram sem a supervisão de um profissional capacitado. O resultado são estudantes com aprendizagem atrasada, perda das habilidades já adquiridas e pais que sentem a invisibilidade dos filhos.

Com uma filha de 12 anos, que é autista não verbal, Daniela Ferreira, de 43 anos, lida diariamente com as frustrações de uma infância com ensino remoto. A menina estuda em uma das escolas de educação especial localizada em Campo Grande. Assim, a pandemia obrigou a instituição a suspender as aulas e a criança seguiu os estudos em casa.

No entanto, ao contrário de outros alunos, estes não estão recebendo aulas por vídeo. De acordo com a mãe da menina, as atividades são entregues em apostilas em preto e branco. Sem nenhum tipo de acompanhamento de profissionais, a criança e a mãe já estão desmotivadas para realizar as tarefas.

“Procuro desenvolver o interesse nela, mostro as atividades, o lápis, nas ela não faz. Eu desisti de tentar', lamenta a mãe. As únicas tarefas que a menina gosta de fazer são desenhos, que muitas vezes não estão na apostila entregue pela escola.

A mesma situação é vivida por Ericléier Alves, que possui um filho de 7 anos, autista com paralisia cerebral, que atualmente está no 2º ano da rede municipal. A mãe da criança relata que as atividades pedem para o estudante identificar as cores. “Mas como vou pedir isto para ele, se é tudo em preto e branco'.

A frustração toma conta da criança e do adulto, que se vê limitado para dar continuidade da aprendizagem escolar. “Com a pandemia, as famílias compreendem que não é possível o presencial. Mas a gente tem o virtual', destaca. Ericléier se preocupa com a falta de socialização que esses estudantes enfrentam e cobra alternativas que podem mudar esta realidade.

A psicopedagoga Glaucia Benini destaca que não são apenas os sentimentos dos pais de que as crianças estão sendo distanciadas do ensino na pandemia. “Acabou que as crianças da educação especial ficaram praticamente esquecidas ali dentro daquele plano de ensino', explica.

Assim, a especialista diz que a situação se assemelha a uma segregação destas crianças. Pois, “na verdade essas aulas online não contemplam as crianças com deficiências'. Ela cita que existem alunos com deficiência visual, auditiva e o espectro autista entre outras individualidades. “Cada crianças tem necessidade específica' e precisaria de um plano individual.

Há pelo menos oito meses lidando com aulas em casa e com a proximidade no início do novo ano letivo, Daniela lamenta a falta de amparo para as crianças que precisam da educação especial. “Ficamos sem apoio nenhum, mal ligam para saber se minha filha está bem. Sinto como se ela fosse invisível', desabafa.

Ericléier compartilha do mesmo sentimento. Sobre a forma em que o estudo da filha foi conduzido, ela diz que sente “abandono, descaso e que eles estão assinando um documento de irresponsabilidade'. Ainda divindo o mesmo cenário, as mães se aflingem ao pensar da falta de interação que os filhos passam. “O que mais me preocupa é a falta de socialização', destaca Ericléier.

Para Glaucia, os principais problemas do ensino remoto para a educação especial estão relacionados a perda do vínculo escolar, que gera o desinteresse mesmo pelo ambiente, causado pela exclusão dessas crianças.

Então, diante da situação, a psicopedagoga incentiva que os pais busquem amparo na lei. “Devem sim buscar as autoridades para que seja respeitado o direito de ensino destes alunos'. Enquanto isto, ela lembra que é importante os responsáveis continuarem tentando inserir as atividades na rotina da criança.

Além da disposição e amor, deve haver estímulos baseados nas características do próprio filho. “Procurar a chave que desperta o interesse da criança, seja com música, vídeos, livros, desenhos, às vezes uma leitura ou atividade na terra e com brinquedos', explica.

Glaucia explica que é preciso sempre explicar o motivo das mudanças e o porque as aulas foram suspensas da maneira convencional. “Os pais podem montar um quadro de rotinas, fixar em um local que a criança consiga visualizar', detalha.

Desenvolver essas atividades com a criança, estimular por meio da repetição, é uma forma de trazer progressos para a aprendizagem do estudante da educação especial. “O que mais preocupa é o atraso do aproveitamento do conteúdo', ressalta a profissional.

Assim, a psicopedagoga lembra que existe o PPI (Plano Pedagógico Individual). Ela indica que os pais procurarem na escola, com base na lei já citada, o desenvolvimento de um plano de ensino com compensação para estas crianças. “É um plano de revisão, um esquema focado de forma individual para compensar a perda de todo estes conteúdos e esses estudantes venham a ter a menor perda possível'.

A lei de amparo para crianças com deficiência servem para estudantes da rede pública estadual ou municipal. O Jornal Midiamax entrou em contato com a Prefeitura de Campo Grande e o Governo do Estado. Entretanto, o Governo não havia respondido à solicitação até a publicação desta reportagem.

Então, sobre a educação especial, a Prefeitura informa que atende cerca de 2,5 mil alunos com deficiência. Estes estão matriculados em escolas municipais de ensino regular e recebem atendimento nas salas de recursos multifuncionais, tradutores e intérpretes de Libras/Língua Portuguesa, assitente educacional inclusivo e auxiliar predagógico especializado.

Os recursos são oferecidos em cenário de aulas presenciais, na pandemia a gestão informou que estes alunos recebem apenas as apostilas como os outros estudantes. No entanto, afirma que “estes cadernos passam por adequações das atividades estruturadas para os alunos público-alvo da educação especial, dentro das especificidades de cada deficiência'. Além disto, garante que as salas de recursos multifuncionais estão disponíveis para atendimento remoto.

Por outro lado, crianças com deficiências assistidas pela Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Campo Grande recebem um material mais completo para os estudos em casa. São entregues “tintas, giz de cera, folhas color set, cartolina, além de jogos pedagógicos confeccionados pelos próprios professores'.

Por fim, a associação destaca que os professores gravam vídeos individualizados para cada atividade. Além disto, a Apae disponibiliza apoio de psicologia, serviço social e enfermagem remoto e de forma presencial, dependendo do caso.



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